A Atividade Salvífica de Amida
Shaku Shin Gi
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Buda Amida é o Eternamente Compassivo, nosso Pai e Mãe Amorosos, que nos abraça e nunca abandona. Toda glória seja dedicada a Ele; todos os méritos são Dele. Namu Amida Butsu.
Amida não é apenas onipresente; Ele não é separado de nossa realidade. Namu Amida Butsu. As palavras e ensinamentos de nossos Grandes Mestres – e estes nem sempre são apenas os que se reconhecem como budistas, “O que chamamos de Mente Confiante (Shinjin), não é um privilégio do Budismo. Nem Amida salvou apenas os Budistas.” (Rev. Gustavo Shogyo, Esta Margem e a Outra Margem) – não são meras especulações filosóficas, mas a manifestação da Atividade Salvífica de Amida. Como Amida é puro Amor e Compaixão, essa Atividade só pode ter um objetivo: conduzir os seres ao fim do sofrimento. Essa Graça funciona como uma atividade descentralizante, dissolvendo nossas ilusões de estabilidade, desvelando todos os “eus” falsos, destroçando toda noção de controle, “Deus aparece nesse mundo através da auto-negação” (Kitaro Nishida). Quando todas as ilusões são destruídas, sobra apenas Amida, e nascemos em sua Terra Pura. Kiyozawa Manshi descreve essa experiência da seguinte forma:
“Antes de alcançar esse ponto final, pensei em certos momentos que havia formado algumas ideias sobre minha convicção religiosa. Mas, uma após a outra, cada uma dessas ideias foi destruída.
Experiências tão amargas eram inevitáveis enquanto eu tentasse estabelecer uma convicção religiosa com base na lógica ou na investigação acadêmica. Após passar por um processo tão difícil, percebi que não posso definir o bem ou o mal, a verdade ou a falsidade, a felicidade ou a infelicidade.
Ciente de minha total ignorância, passei a confiar todas as questões ao Tathagata. Este é o ponto mais essencial da minha convicção religiosa.” (My Religious Conviction)
Nossos Mestres ensinaram que só podemos renascer na Terra Pura após a morte. Mas o que isso significa? Isso significa que só podemos nascer em sua Terra da Suprema Bem-aventurança quando desistimos de toda tentativa de controle e nos entregamos totalmente à Natureza Búdica. Quando paramos de tentar controlar tudo e libertamos nossos fluxos de desejo – não nos entregando a eles cegamente, mas deixando de reprimi-los ou realizá-los –, permitindo sua dissolução natural, morremos em vida e renascemos imediatamente na Terra Pura. Essa é a experiência do Shinjin, a união de nossa mente com a mente de Amida, e é o aspecto da Ida (Oso Eko). No momento em que nos rendemos ao fluxo da Graça de Amida, a Terra Pura já não está mais separada deste mundo Sahā. A expressão final da Atividade Compassiva de Amida é seu Nome Sagrado, o Nembutsu, o próprio meio prometido no 18º Voto para assegurar o nascimento na Terra Pura. Nesse momento, atingimos o Nirvana sem a necessidade de extinguir os venenos mentais – um Nirvana que recebemos espontaneamente, como um raio que nos atinge, e que não é fruto de nosso cálculo ou poder, mas um presente de Amida, “Quando a Mente Confiante, na primeira percepção instantânea de alegria e gratidão for despertada em nós, seremos conduzidos ao Nirvana mesmo sem a extinção das paixões maléficas” (Shiran Shonin, Shoshinge). O aspecto da Volta (Genso Eko) é realizado na morte biológica, a dissolução do corpo, que, sem motivos, tanto tememos, mas não podemos nunca evitar. Assim, nos unimos fisicamente ao Nome Sagrado de Amida, que ecoa em todo canto do universo. Tornamo-nos, física e espiritualmente, parte de sua Atividade Salvífica, “Entre todos os seres vivos — montanhas e rios, grama e árvores, até mesmo os sons dos ventos soprando e das ondas se erguendo — não há nada que não seja o nembutsu” (Ippen Shonin).
Não tomamos parte em especulações filosóficas, pois reconhecemos nossa natureza profundamente ignorante e maligna. Reconhecemos que já estamos salvos por Amida, mas também reconhecemos que só necessitamos dessa salvação por conta de nossos inúmeros pecados, que cometemos a todo momento. Embora possamos, com muita cautela, expressar algumas características de sua natureza que nos aparecem através da experiência, nunca podemos capturar totalmente sua realidade Absoluta, pois, fora do Nome Sagrado – que não aponta para nada, mas é a manifestação mais direta Dele –, Ele está muito além de qualquer descrição. Sendo seres tão ignorantes, nunca podemos expressar corretamente a verdadeira Natureza de Amida, “Tomai refúgio no Inefável!” (Shinran Shonin, Wasan). A especulação filosófica só nos ajuda a cair em armadilhas conceituais e linguísticas, fazendo-nos perceber, em meio ao redemoinho mental, que realmente somos os mais ignorantes de todos.
Amida, em sua Compaixão Infinita, fez o Voto Primordial de salvar todos os seres sencientes de toda existência e, assim, abriu o portão de sua Terra Pura para todos indiscriminadamente. Seu Voto garante o acesso de todos à Terra Pura criada por Ele; contudo, sua Graça se volta especialmente para os maus, aqueles que, incapazes de alcançar a iluminação por seus próprios esforços, encontram em seu Nome o único refúgio verdadeiro, “Se os bons conseguem o ir-nascer, com muito maior razão os maus conseguirão.” (Shinran Shonin, Tannisho). Diante de um Amor tão infinito, qualquer tentativa de retribuição é insuficiente. Ainda assim, devemos nos esforçar para retribuir em cada respiração, reconhecendo que até mesmo esse esforço não é obra nossa, mas sim de Amida. Cada Namu Amida Butsu é um eco do Amor que nos salvou.
Namu Amida Butsu! Namu Amida Butsu! Namu Amida Butsu!